Parece-me que Bonnie «Prince» Billy nunca tinha tocado em Portugal um repertório tão centrado na temática amorosa. Canção após canção, ele vai dizendo «
she» isto, «
she» aquilo, o humorismo que também usa dando lugar a uma intensidade sisuda, mas não deprimente. O concerto do São Luiz foi em formato de quinteto: contrabaixo, bateria e três guitarras (uma delas de Matt Sweeney). Will Oldham, de seu nome civil, é o menos glamouroso dos artistas. Careca e de barba hirsuta, traz para palco um saco de pano com folhas soltas e a harmónica, demora-se em afinações, conversa com os músicos, puxa várias vezes as calças para cima, bebe minis, tem tiques desconjuntados com a perna, e dá uns urros ao género de vaqueiro demente. Quando não conhecemos determinada canção, não adivinhamos facilmente o que se segue, os versos têm uma imagética bizarra, estruturas anómalas e rimas imprevistas, e às vezes há uns «recitativos». «I See a Darkness», talvez a obra-prima de um catálogo vastíssimo, veio antes dos «
encores», foi submetida ao tratamento dylanesco de mudanças de velocidade e de ânimo, e ficou menos estarrecedora, mais animada, mas ainda assim reconhecível, e estrondosa. Logo a abrir tínhamos tido as minhas duas interpretações favoritas da noite, «Teach Me To Bear You» e «My Home Is the Sea», momentos vigorosos de confessionalismo obscuro e de poesia ruidosa. Que mais se pode pedir?