10.11.14

É / não é

O amor não é uma profissão
apresentável ou inapresentável

o sexo não é um dentista
que enche a contento inchaços e cavidades

tu não és o meu médico
tu não és a minha cura,

ninguém tem esse
poder, és apenas uma companhia para a viagem

Desiste da preocupação clínica,
tão abotoada e atenta,

permite-te um pouco de raiva
e permite-me um pouco de raiva

uma raiva que não precisa da tua
aprovação nem da tua surpresa

que não precisa de ser legalizada
que não é um antídoto contra uma doença

mas contra ti,
que não precisa que a entendam

ou lavem ou caustiquem,
mas que precisa em vez disso

de falar uma e outra vez em voz alta.
Permite-me o uso do tempo presente.


[«Is/Not» (1974), de Margaret Atwood, versão PM]