Eu dizia-lhe que se podia viver de um modo «romanesco», mesmo que se vivesse em vão, porque o romanesco como que supria o «em vão», noção de que ela sensatamente discordava. Podia ter-lhe contado a história de Philippe Vilain.
Philippe ficou fascinado com o episódio da monitora da colónia de férias e do rapazinho judeu, personagens de
L’Été 80, um dos livros mais cativantes de Marguerite Duras (crónicas? memórias? ficções? devaneios?). O rapaz de
L’Été 80 era ainda uma criança, como Philippe em 1980. Estava fascinado pela monitora, e ela, prudente e suave rapariga, marcou um «encontro» para dali a uns bons anos, quando ele fosse crescido, quando fosse, digamos, da idade dela.
O encontro teria lugar a 30 Julho de 1992. Isto em Trouville, uma praia normanda, na Rue de Londres, à meia-noite. Nessa data, a essa hora, Philippe Vilain compareceu em Trouville, na Rue de Londres. E ficou à espera desse encontro, um encontro vagamente combinado numa ficção esquiva. Esperava o quê? Uma mulher, uma história, qualquer coisa. Mas não apareceu ninguém, não aconteceu nada.
Mais tarde, escreveu um ensaio sobre essa experiência: «Não sei se fiquei desiludido que não estivesse lá ninguém, que nenhuma mulher tenha tido a mesma fantasia do que eu, ou se, no fundo, fraco consolo, eu não estava orgulhoso de ter sido o único a comparecer àquele encontro (...). Tinha vinte e três anos. Queria viver de um modo romanesco».
Eu podia ter-te contado a história de Philippe, da monitora e do rapazinho. E até a tua sensatez se comoveria um nadinha, apenas o bastante para eu notar, como um consolo tardio e precioso.