20.5.14

Museu da inocência

A minha terceira coluna no novo Expresso diário [requer registo prévio]

«O Museu da Inocência» (2008) [tradução portuguesa Presença], romance pós-Nobel do turco Orhan Pamuk, não é um livro-jogo: é um livro-museu. Pamuk contou que, muitos anos antes de escrever o livro, conheceu um príncipe otomano, desapossado dos seus títulos e bens, e que trabalhava como guia turístico do palácio onde tinha vivido. Esse episódio deu ao ficcionista a ideia de um romance que fosse um museu, um museu vivo e comovente. Não queria histórias de príncipes mas de turcos anónimos, ainda que, geralmente, das classes médias-altas, aquelas que ele conhece bem. Então, durante anos, Pamuk coleccionou objectos, «verdadeiros objectos de um registo ficcional», coisas reais que ele comprava em lojinhas poeirentas e em feiras da ladra, e que seriam como que adereços de um romance futuro, que ele imaginou como um dicionário enciclopédico, ou um catálogo comentado, embora no final fosse sobretudo a história de uma obsessão: a de Kemal pela sua prima afastada Fusun, entre amores, afastamentos e recordações. (...)