Em
Shadowlands (1993) Richard Attenborough conseguiu fazer um «
weepie» com a história do casamento tardio e viuvez precoce de C.S.Lewis, treslendo por completo o caso humano e teológico que escolheu. Era um cineasta humanista, mas nunca foi um cineasta subtil. Não importa, porque não são os filmes que dirigiu que ficam, nem os mais bem-intencionados, os
Gandhi e outros que tal, mas três ou quatro papéis que interpretou. E acima de todos o do meliante Pinkie Brown, no
Brighton Rock (1947) de John Boulting, um dos dez ou doze melhores filmes britânicos de sempre. Pinkie é uma das personagens mais espantosas de Graham Greene, no grandíssimo romance homónimo: o homem mau que é incapaz de ser bom, mas que faz bem aos bons, no caso a sua namorada, a aluada Rose. Incapaz de perceber que vive com um gangsterzinho de quinta categoria, que lhe mente e se serve dela, Rose acreditará em Pinkie até ao fim, e até depois do fim. Attenborough, esquálido, rude e hostil, farto de tanta candura, grava num disco a mais violenta carta de desamor: «
You wanted a recording of my voice, well here it is. What you want me to say is, ‘I love you’. Well, I don’t. I hate you, you little slut…». Não há razão para Pinkie odiar assim Rose, excepto por ódio à bondade e à inocência, porque o mundo é cão e não merece pessoas inocentes e bondosas. Depois da morte matada de Pinkie, Rose põe a tocar essa recordação, gravada numa feira, e que ela nunca tinha ouvido; mas o disco está riscado, «
What you want me to say is ‘I love you”», diz Pinkie, e então o disco soluça, «
I love you», «I love you», «I love you», «I love you». Uma redenção que é uma mentira mas que, resgatando Rose, salva também Pinkie. Como se ele fosse um deus desconhecido.