Uma vã empresa
Em crise conjugal, e em «crise de versos», Coleridge dirige-se a uma mulher que não a sua esposa, chamada Sara Hutchinson. Mais do que um poema de amor, é um poema que exprime a incapacidade de expressão, o inexprimível, a impossibilidade de a expressão exprimir alguma coisa:
A grief without a pang, void, dark, and drear,
A stifled, drowsy, unimpassioned grief,
Which finds no natural outlet, no relief,
In word, or sigh, or tear -
O Lady! in this wan and heartless mood (...) .
A catarse inatingível descrita no poema não impediu a catarse que é o poema. Mas também podemos formular isso às avessas: a catarse que é o poema não eliminou a incapacidade de catarse. Essa que Coleridge lamenta, incapaz e triste, cansativo para todos, excepto para os seus poemas:
My genial spirits fail;
And what can these avail
To lift the smothering weight from off my breast?
It were a vain endeavour,
Though I should gaze forever
On that green light that lingers in the west:
I may not hope from outward forms to win
The passion and the life, whose fountains are within.
[Coleridge, «Dejection: An Ode», 1802]