11.1.15

Anita Ekberg 1931-2015

Ninguém recordaria esta Miss Suécia se não tivesse havido Fellini e a Fontana de Trevi. É verdade que ela foi protegida de Howard Hughes, estrela da Paramount, pin-up sub-Monroe, que filmou com Tashlin e com Vidor, que contracenou com Wayne e Martin & Lewis, que terá sido namorada de Sinatra & tutti quanti; mas Fellini viu uma foto dela a molhar os pés naquela fonte romana, depois de uma noitada, e encontrou um ícone tão duradouro como a própria designação paparazzo, outro legado imortal de La Dolce Vita (1960). Veríamos Ekberg quase trinta anos mais tarde, na divertida e tristíssima Entrevista (1987), ao lado de «Marcello-come-here», uma sombra do que tinha sido, e como podia ser de outro modo? Mas ninguém a esquece aos vinte e muitos, tão nórdica, de vestido de noite sem alças, descalça e à luz da lua, Fontana de Trevi adentro. Marcello faz um gesto de quem toca a medo: tudo aquilo é visão, fantasia, demasiado bom para ser verdade. Tudo aquilo é a imagem do mundo que devemos ao cinema: onírica, inverossímil, deslumbrante, às vezes pouco subtil, mas inesquecível como um fantasma ou uma cidade eterna.