21.9.14

Escondida nas minhas mãos

Escondidos nas minhas mãos
os teus seios pequeninos
são o ventre às avessas de pardais
caídos que respiram ainda.

Quando te moves ouço
o ruído de asas que se fecham
e de asas que desistem.

Fico sem palavras
porque estás deitada a meu lado
porque as tuas pestanas são o esqueleto
de minúsculos frágeis animais.

Tenho medo do tempo
em que a tua boca
me considere um caçador.

Quando me chamas e tão perto
me dizes
que o teu corpo não é belo
quero ordenar
às bocas e aos olhos ocultos
das pedras da luz da água
que testemunhem contra ti.

Quero que te
entreguem
como de uma caixinha
o verso trémulo que é o teu rosto.

Quando me chamas e tão perto
me dizes
que o teu corpo não é belo
eu quero que o meu corpo e as minhas mãos
sejam lagos
onde tu olhes e rias.


Leonard Cohen [versão PM]