15.7.14

Espécie de amor

Ele tinha vintes, ela sessentas. Ela era famosa, ele desconhecido. Ela gostava de homens, ele também. Yann Andréa Steiner, o último companheiro de Marguerite Duras, morreu há dias, no ano do centenário da escritora. Foi protagonista de uma das mais estranhas histórias de amor da literatura, de um dos mais inquietantes casos de vampirismo e fidelidade. Um amor louco: amor que não podia bem ser amor, e que era amor absolutamente.

Ainda estudante, Yann Lemée era fã de Duras, e escreveu-lhe muitas cartas, ao que parece muito boas. Ela não lhe respondeu, ou só esporadicamente, porque não respondia aos admiradores, embora ficasse lisonjeada. Encontraram-se, de fugida, em 1975, em Caen, depois de uma sessão de cinema. Cinco anos depois, no Verão de 1980, Duras era uma mulher envelhecida, sozinha, e atravessava um bloqueio criativo, depois de ter passado uma década essencialmente dedicada aos filmes, mais do que aos livros. Um dia, Yann telefona para a casa de praia dela em Trouville, na costa normanda. Ela convida-o, e ele parte imediatamente. Ela tem medo. Mas quando ele chega ela fica entusiasmada com aquele bretão elegante, alegre, discreto, paciente. Quando cai a noite, a anfitriã diz a Yann que não se vá embora, que os hotéis estão todos cheios, porque é Verão. Diz-lhe que pode ficar no quarto que era do filho dela. Yann fica. E não mais sairá da vida de Marguerite. (...).


[no Expresso diário]