Irmão, onde estás?
A minha sétima coluna no Expresso diário [requer registo prévio].
«Espécie de Amor» (2014) é uma evocação dos anos em que Pedro e Miguel eram os melhores amigos um do outro, cúmplices, quase gémeos, a viver na mesma casa, a trabalhar na mesma empresa, a ler ao mesmo tempo os mesmos escritores europeus sofisticados, a divertirem-se juntos com raparigas em hotéis e com substâncias químicas. É um livro confessional como raramente temos visto, isento de auto-elogio, snobismo, denúncia ou vingança, um texto de uma candura absoluta, inocente mesmo quando desconfortável, por excesso de informação e detalhes escusados.
Pedro Paixão, como muita gente, considerava Miguel Esteves Cardoso um génio, capaz de amotinar o jornalismo português (como de facto aconteceu) e a literatura portuguesa (o que não se verificou). Paixão conta que MEC detestava os jornais, as crónicas, que isso servia apenas para ganhar dinheiro, que guardava em maços, com os quais pagava os confortos e os vícios; mas Miguel queria-se um Wittgenstein ou um Beckett, alguém assim brilhante, carismático, fundamental, alguém que pensasse e escrevesse grandes livros, mesmo depois de o pensamento e a literatura terem sido devastados por um século catastrófico. (...)
«Espécie de Amor» (2014) é uma evocação dos anos em que Pedro e Miguel eram os melhores amigos um do outro, cúmplices, quase gémeos, a viver na mesma casa, a trabalhar na mesma empresa, a ler ao mesmo tempo os mesmos escritores europeus sofisticados, a divertirem-se juntos com raparigas em hotéis e com substâncias químicas. É um livro confessional como raramente temos visto, isento de auto-elogio, snobismo, denúncia ou vingança, um texto de uma candura absoluta, inocente mesmo quando desconfortável, por excesso de informação e detalhes escusados.
Pedro Paixão, como muita gente, considerava Miguel Esteves Cardoso um génio, capaz de amotinar o jornalismo português (como de facto aconteceu) e a literatura portuguesa (o que não se verificou). Paixão conta que MEC detestava os jornais, as crónicas, que isso servia apenas para ganhar dinheiro, que guardava em maços, com os quais pagava os confortos e os vícios; mas Miguel queria-se um Wittgenstein ou um Beckett, alguém assim brilhante, carismático, fundamental, alguém que pensasse e escrevesse grandes livros, mesmo depois de o pensamento e a literatura terem sido devastados por um século catastrófico. (...)