Elogio do secundário
Terei visto muitíssimas dezenas de filmes com Eli Wallach (1915-2014), que fez uma centena. Daqueles que me lembro bem, Wallach quase só tinha algum protagonismo no lascivo Baby Doll, ele que vinha justamente da escola Elia Kazan / Tennessee Williams; em Os Sete Magníficos, um bom mas escusado remake de Kurosawa; em Os Inadaptados, onde dançou com Marilyn como só dança um amigo; e em O Bom, o Mão e o Vilão, coboiada inóspita onde fez de vilão («the ugly»), facto que só descobriu por exclusão de partes. Morreu agora, quase centenário, depois de uma vida inteira no teatro (onde, disse, lhe davam papéis de homem «irritado e incompreendido») e no cinema (onde fez muitas vezes o mau da fita, ou o intempestivo, e, mais tarde, o sábio bom). Pertenceu a uma grande geração teatral, a do «método», uma geração que se tornou conhecida por causa do cinema. E se me lembro tão bem dele é porque entrou em vários filmes dos quais não me lembro de nada senão dele. Acho que me lembro dele até em filmes que não vi. Isto porque Eli Wallach era um dos grandes símbolos do «secundário», essa instituição americana, que nos deu tantos e tão bons: «attendant lords», como no poema de Eliot, «(...) one that will do / To swell a progress, start a scene or two, / Advise the prince; no doubt, an easy tool, / Deferential, glad to be of use, / Politic, cautious, and meticulous; / Full of high sentence, but a bit obtuse; / At times, indeed, almost ridiculous - / Almost, at times, the Fool». Incansável, confiável, dedicado, chamava-se Eli Wallach, e era um «senhor» mesmo quando fazia de «bobo».