Guilherme de Aquitânia
Guilherme de Aquitânia, em provençal: «D’amor non dei dire mas be. / Quar non ai ni petit ni re? / Quar ben leu plus non m’en cove»; na versão de Arnaldo Saraiva: «De amor não direi senão bem. / Porque nada dele me vem? / Porque mais não me convém». É impossível dizer isto de forma mais exacta. Não é pelos nossos amores de cada qual que devemos avaliar «o amor», sobretudo se não o confundimos com tantas outras afeições parecidas. Podemos acreditar no amor como os comunistas acreditam no comunismo: nenhum fracasso mostra a sua insuficiência, inviabilidade ou maldade. «De amor não direi senão bem», é bem verdade, e sou até, com todos os paradoxos que queiram ou imaginem, um homem com alguma sorte, porque escapei quase sempre à infâmia. Dele nada me vem? Tem sido verdade em certos casos, mas não é verdade sempre, não é verdade em abstracto, posso mesmo dizer que nunca tive nenhum bem digno desse nome que não viesse com o amor, ainda que frágil ou fugaz. Quanto ao «porque mais não me convém», cada vez mais me convenço que cada um tem o que merece e aquilo que secretamente quer, ou então faria de modo diferente o que fez sempre da mesma maneira. Estou com Guilherme de Aquitânia, nascido em 1071 e falecido em 1126.