Divisão da alegria
Grandíssimo concerto de Peter Hook, que não tem voz nenhuma mas tem a força de um catálogo e de uma entrega: mais de 3 horas, nomeadamente com as integrais de Unknown Pleasures (1979) e Closer (1980), discos tão importantes para mim que quebrei emocionalmente duas ou três vezes, sobretudo naquelas canções em que a veemência e pungência das guitarras se reúnem em torno de perguntas-queixume, perguntas-desespero, o «where will it end» de «Day of the Lords», o «where have they been?» de «Decades» (um dos grandes momentos da noite, juntamente com «Interzone»), perguntas que em dias de cão fiz tantas vezes. Noutros casos, em vez de perguntas há declarações-rendições, o efeito é o mesmo: «I’ve got the spirit, lose the feeling», «I feel it closing in», «me, seing me this time, hoping for something else». E tivemos também a beleza catastrófica de «Love Will Tear Us Apart», a elegia devastada mas resignada de «Atmosphere», a euforia malsã de «Transmission» ou o pânico maníaco-depressivo de «She's Lost Control». Tudo pulsante, vibrante, zangado, destroçado, sem a voz de Ian mas com o baixo tão baixo de Hooky, que nos assombrou no Armazém F, trinta e cinco anos depois.