7.3.14

O normal e o justo



(...) Há dias, morreu um outro herói comum. Chamava-se Franklin McCain. Em 1960 (...), Franklin e três outros estudantes negros entraram na cafetaria de uns armazéns em Greensboro, Carolina do Norte, e pediram café e donuts. A cafetaria era «só para brancos», e ninguém os quis servir. Então os rapazes, que ficaram conhecidos como os Quatro de Greensboro, voltaram uma e outra vez, sentaram-se ao balcão e esperaram que os atendessem. E a eles se foram juntando muitos outros, ao quinto dia de insistência eram mais de mil pessoas, de modo que, a certa altura, a gerência mandou que servissem toda a gente. Franklin não foi o primeiro a fazer o que fez, tal como Rosa não tinha sido a primeira, mas os seus casos foram os mais fotografados e comentados. E ambos geraram imitações em vários estados sulistas, juntamente com marchas, boicotes, actos de desobediência civil e motins. (...)

McCain e os Quatro de Greensboro deram o exemplo (...). O seu «sit-in» tem a força do óbvio. McCain contou que tinha chegado à conclusão de que um «homem moral tem de agir contra a injustiça». E «agir» pode ser apenas isso, sentar-se num banco alto, com toda a gente a olhar, e pedir café e donuts. O gerente não os quis servir, alguns clientes brancos insultaram-nos, e até os empregados negros lhes pediram que se fossem embora e não causassem problemas. Mas Franklin McCain disse que sabia que estava a fazer o que era certo, tinha medo mas também orgulho. E as pessoas que se lhes juntaram, dia após dia, eram brancos e negros, dia após dia, até que Franklin, como Rosa antes dele, pudesse viver a justiça como se fosse a normalidade. Tudo porque se portaram normalmente, mostrando que era isso a justiça.


[amanhã, no Expresso]