9.3.14

O método experimental

Os optimistas gostam de dizer que o pessimismo é uma «profecia auto-realizável». Curiosamente, quando afirmam isto já estão a dar o braço a torcer, porque já reconhecem que a realidade em que vivem os pessimistas é de facto negativa, e não uma ficção mental.

Mas há duas manifestações possíveis dessa «profecia», com diferentes graus de fiabilidade. Uma tese é a seguinte: ao pessimista acontecem coisas péssimas porque ele de alguma maneira faz por isso; quer dizer, o pessimista é no fundo um masoquista. Parece-me uma hipótese verossímil, e talvez verdadeira nalguns casos, mas indemonstrável como tese geral. Sem se estabelecer um nexo de causalidade muito frequente, a hipótese não é estatisticamente forte. Mas a sugestão de que o pessimista é masoquista corresponde à vontade que o optimista tem de declarar patológicas todas as convicções não-esfuziantes.

Uma segunda hipótese é esta: o pessimismo de uma pessoa não altera apenas o seu comportamento mas a própria realidade; ou seja: o mundo faz-se péssimo para os pessimistas. Creio que isto é uma versão invertida da tese do «pensamento positivo», e portanto uma balela mística, imprestável, embaraçosa.

Tenho verificado que um optimista é capaz de acreditar em todas as teses não-comprovadas e em todas as trafulhices paranormais, tudo o que for preciso, tudo o que impeça de reconhecer que os pessimistas têm razão e que as coisas, em geral, acabam mal. O optimista acredita em voluntarismos ou «vibrações» e despreza o método experimental, ou seja, a verdade.