O medo
Tem razão quem diz que o medo é a origem do conhecimento. Bem sei: «amar é conhecer» e tudo isso; mas um homem que ama uma mulher tenta conhecer, apenas isso, trata-se de um processo constante, infindável, e de certo modo votado ao fracasso, mesmo quando o amor triunfa. Ao passo que o medo, sendo uma estratégia de sobrevivência, é menos profundo mas mais eficaz: vamos sabendo quase exactamente o que fazer, quem evitar, como dizer, e o que dizer. Com o amor vive-se, com o medo evita-se a morte. Evita-se por agora, claro, porque o medo não desconhece que toda a vida se desfaz.