4.3.14

Dramatis personae

Escrevo sobre sete ou oito pessoas (agora nove?), há gente de quem gosto muito e sobre quem nunca escrevi uma única linha, ao passo que me ocupo obsessivamente de quem devia esquecer, mas as coisas são o que são: tenho o meu teatro mental, e esse teatro tem certas personagens marcantes com quem me cruzei e que representam aquilo que são de facto, ou aquilo que imagino, aquilo que foram comigo, e talvez, às vezes, arquétipos ou clichés, demonizações ou idealismos. Por isso tem graça quando alguém quer entrar à força nos meus textos, quando alguém se sente elogiado ou atacado, sem que isso alguma vez me tenha passado pela cabeça, sem que isso alguma vez tenha qualquer hipótese de acontecer, jamais. Entra nesta peça quem eu escolher (mesmo quando não tive escolha nenhuma), talvez quem se adeque ao «guião». Por isso não é verdade que escreva «sobre mim»: escrevo sobre essas pessoas, uma e outra vez. Escrevo «sobre mim» apenas na medida em que sou «eu» quem escreve os textos. Mas esse «eu» existe por causa de sete, oito personagens, nove agora.