Um caso mental
Pessoa escreveu: «Se algum dia alguém deixasse de me achar ridículo, eu entristecia ao conhecer-me, por esse sinal objectivo, em decadência mental». É um veredicto auto-desapiedado, como eu gosto. Acontece-nos às vezes (aconteceu-me recentemente) achar o que o «ridículo» é uma manifestação de «decadência mental», ou um motivo notório de «decadência mental». Pessoa diz o contrário: quando nos acham ridículos acham-nos como de facto somos; se deixassem de nos achar ridículos é que seria preocupante, porque a ausência de ridículo indiciava uma mudança de identidade, e portanto uma grave decadência.