O meu sósia
(...) [Philip Seymour] Hoffman desaparecia nos papéis, ou então mostrava-se: frágil, atormentado, frustrado, patético, quase dostoievskiano. Isso devia-se à sua coragem, à entrega que não era um «método» mas uma disponibilidade. Elogiando Paul Thomas Anderson, que lhe deu grandes papéis, Hoffman lembrou que o cineasta era «honesto» e «humilde acerca da natureza humana». Isso é que importava. Das personagens de Hoffman dizia-se que demonstravam desprezo por si mesmas, mas ele explicou que o que lhe interessava na verdade era o medo, que nos une a todos.
Em Jogos de Prazer ele enfrentava esse medo desistindo da vida; em Felicidade ensaiando um romantismo abjeccionista; em Quase Famosos convencendo-se de que os grandes artistas são todos «feios»; em Antes Que o Diabo escavacando uma casa depois de ser abandonado; em Jack Goes Boating, aprendendo a cozinhar porque a namorada nunca teve ninguém que cozinhasse para ela. E em O Mentor combatia o medo como charlatão carismático, sofisticado, insidioso, convincente, como actor consumado. Essa foi, aliás, a última obra-prima dele que vi, no dia em que fiz 40 anos, num cinema nova-iorquino situado a alguns quarteirões do bairro onde, soube agora, vivia o meu sósia, o meu amigo.
[amanhã, no Expresso]
Em Jogos de Prazer ele enfrentava esse medo desistindo da vida; em Felicidade ensaiando um romantismo abjeccionista; em Quase Famosos convencendo-se de que os grandes artistas são todos «feios»; em Antes Que o Diabo escavacando uma casa depois de ser abandonado; em Jack Goes Boating, aprendendo a cozinhar porque a namorada nunca teve ninguém que cozinhasse para ela. E em O Mentor combatia o medo como charlatão carismático, sofisticado, insidioso, convincente, como actor consumado. Essa foi, aliás, a última obra-prima dele que vi, no dia em que fiz 40 anos, num cinema nova-iorquino situado a alguns quarteirões do bairro onde, soube agora, vivia o meu sósia, o meu amigo.
[amanhã, no Expresso]