A bondade e a vergonha
Em anos que não esqueci, tive orgulho e tive vergonha, orgulho ou vergonha de coisas más, entenda-se, segundo a bondade ou maldade que encontrei. Mas agora, perante uma bondade inédita, tenho mais vergonha do que orgulho. É um paradoxo, talvez, ou talvez não. Porque eu podia orgulhar-me da bondade ou maldade de uma pessoa em função da minha conduta, que achava decente. E podia envergonhar-me da maldade alheia porque isso denunciava o meu mau juízo. Mas envergonhar-me face à bondade de outra pessoa é diferente, é perceber que a minha decência é uma fantasia.