15.12.13

Peter O'Toole 1932-2013




















Boémio e alcoólatra, foi um dos inebriados «Hellraisers», com Richard Burton, Richard Harris, Oliver Reed ou Peter Finch, mas em versão «aristocrática» (de atitude, não de berço). Claramente mordaz e culto e caótico, tinha uns olhos azulíssimos, sedutores e inquietantes, que ainda hoje nos ameaçam ou convencem. Actor de teatro, com dicção teatral, especializou-se em Shakespeare, fez Shaw e Tchékhov, e interpretou papéis marcantes do teatro moderno em Godot e O Tempo e a Ira. Deu ainda corpo a Jeffrey Bernard, o brilhante colunista e farrapo humano, um O’Toole que nunca se tornou abstémio (Jeffrey Bernard in Unwell). Nomeado oito vezes para os Óscares da Academia, nunca ganhou, e compensaram-no, já velho, com um prémio de carreira. Quiseram dar-lhe um título de nobreza, mas recusou. Tenho-o em muito melhor conta do que aos filmes que fez, embora goste bastante de Becket e de O Leão no Inverno (e moderadamente de Lawrence da Arábia). Entrou noutras duas ou três obras relevantes que não conheço, e em dezenas de títulos irrelevantes. Peter O’Toole era maior que os papéis que lhe davam: era uma indiscutível presença. Ridley Scott percebeu isso quando, em Prometheus, pôs um humanóide a aprender quão perfeita e elevada consegue ser a espécie humana, e para entender isso o robô observava e imitava O'Toole. E ficava, como nós, seu súbdito.