Os juramentos indiscretos
Em Os Juramentos Indiscretos (1732), de Marivaux [que vi hoje no Nacional, numa encenação de José Peixoto, com uma tradução impecável de Maria João Brilhante e um elenco à altura], o «casamento por interesse» gera desinteresses sucessivos das partes envolvidas (pais, noivos, criados), de acordo com os cálculos de cada um, a sua volubilidade sentimental, as suas putativas intenções teóricas, o seu orgulho e arrebatamento e arrependimento. Eles e elas fazem «juramentos» apressados, que depois indiscretamente desmentem. E em vez de dizerem que amam sem de facto amarem, fazem o contrário: amam e não o confessam. É uma coreografia aristocrática, sofisticada e lúdica, que me parece tão esplêndida como antiga, tão diferente do mundo actual onde tudo o que parece é, e tudo é o que parece.