1.11.13

Um figurante

Comecei a escrever poemas por causa de «Prufrock», porque foi o primeiro poema que me pareceu «moderno», erudito e «demótico» [palavra que descobri com Eliot], desenvolto, memorável, tocante, desencantado, exacto. Ao longo dos anos, tenho vivido com esses versos, que acompanham as minhas idades. Sobretudo aquela sequência que diz que «não sou o Príncipe Hamlet, nem isso me estava destinado»: “[I] Am an attendant lord, one that will do / To swell a progress, start a scene or two, / Advise the prince; no doubt, an easy tool, / Deferential, glad to be of use, / Politic, cautious, and meticulous; / Full of high sentence, but a bit obtuse; / At times, indeed, almost ridiculous - / Almost, at times, the Fool”. O senhor Prufrock, como eu, como um figurante do «Hamlet»; um pajem, um conselheiro, um estratagema narrativo: obtusos, ridículos ou bobos na corte da Dinamarca. Nunca soube, e ainda não sei, dizer isto com melhores palavras.