7.11.13

Idades



Há vinte anos escrevi um poema vagamente inspirado em Poe que começava assim: «Todas as idades têm um corvo». E que continuava: «Este é o corvo dos meus vinte anos». Como os meus poemas são sempre «não-ficção», de facto devo ter escrito aquele texto aos vinte anos: e no entanto intuí «a luz extinta», «o entendimento obscuro», «a verdade imprevista» e «a memória entrecortada de luzes contrárias». Hoje, aos 40, quase 41, fico estarrecido com a improbabilidade de ter compreendido isso aos 20: que «todas as idades têm um corvo», e que todos os corvos trazem dúvidas e ruídos. E que, quase sempre, sobrevivemos aos nossos corvos.