Estados
Proust tenta distinguir os «estados» que se sucedem durante certos períodos, um que vem afugentar o outro, «com a pontualidade da febre», estados «contíguos», escreve, «mas tão exteriores um ao outro, tão desprovidos de meio de comunicaram um com outro», que ele nem consegue compreender o que temeu num e conseguiu no outro. Também eu tento entender essa sucessão, um fechamento, seguido de uma euforia, seguido de um medo, seguido de uma tranquilidade, seguido de nada de nada. E tudo funciona como se a alegria fosse de facto um «estado», mas um estado alucinogénio, quer dizer, irreal e passageiro, sem contacto com a verdade dos factos, e com o mundo, que está onde sempre esteve. Esses «estados», de tão «contíguos», são constrangedores, vergonhosos, uma «febre» esporádica mas pontual, e desligam o indivíduo da vida verdadeira, a vida onde ele não triunfa, nem conta, nem está.