5.11.13

COMO OS AMANTES

Vivíamos de refrigerantes
e latas de atum,
numa caravana
com a minha fazendeira.
Atei um nó
que ela desatou.
Gostava tanto dela

como gostam os amantes.

A Júlia vem-se
a comer uma tangerina,
dia três de Fevereiro,
4 e meia.
Rasgou uma página
da minha revista
e foi à sua vida

como vão os amantes.

As raparigas de sábado
aqueciam-me um bocado,
mas o sol de domingo
mata logo a conversa.
Vês os olhos dela:
são um torvelinho.
E ela deixa que te escapes

como escapam os amantes.

Todos os dias
ficas assim tão triste quando me vês
e eu tão feliz por me culpares
e isto continuar assim para sempre.

Vivíamos de refrigerantes
e de latas de atum,
numa caravana
com a minha fazendeira.
Ela atou-me uns nós
que queria depois desatar.
E agora eu olho para ti

como olham os amantes.


[«Like Lovers Do», álbum Love Story (1995); versão PM]