Chegámos até aqui
Volto a Plath, cinquenta anos depois da sua morte. Plath, companheira de Invernos frios durante mais de duas décadas, e que me ensinou que a poesia pode recordar na intranquilidade, e não na tranquilidade, como queria Wordsworth. Leio os primeiros poemas, poemas de boa aluna, cheios de solidez estrófica e alusão mitológica e densidade discursiva, poemas que não me dizem nada, e depois chego aos textos de Ariel, e continuam assombrosos, como se a destruição fosse a fonte de toda a poesia. Tenho como que sublinhados sem precisar de lápis certos versos-fantasma, «a perfeição é terrível, não pode ter filhos», «morrer / é uma arte, como tudo o mais», ou este, que ainda hoje me fere: «os seus pés / nus parecem dizer: / chegámos até aqui, acabou-se».