6.11.13

29

A vida começa aos 30.
É o que dizem.
E não me custa a crer
tendo em conta a minha vida,
e o que tem sido a minha vida.

Andamos por ruelas e bares esconsos
à procura nem sei de quê,
e tu dizes: dá-me alguma coisa que não valha nada,
uma coisa que eu não queira guardar.
Porque o amor não é tudo.

E eu que estava à espera que ficasses,
isto custa a dizer,
estava à espera que ficasses por aqui
até amanhã de manhã.

Tu sabes isto de cor, miúda,
mas vou dizer-te outra vez.
E depois vou ter uma vida espampanante
mas pedir pouco da vida.
O amor não é tudo.

E eu que estava à espera que ficasses,
foda-se, até custa a dizer,
estava à espera que ficasses por aqui,
se não tivesses mais nada na agenda.
Que tonto. Que apaixonado.

Estava à espera que pudesses ficar,
mas não é fácil dizer:
ouve, tens alguma coisa combinada?
Que tonto. Que apaixonado.

Mas não são só os solitários,
sabes, não são só os solitários que um dia ficam assim:
tontos de gostarem tanto.


[«29», álbum Mainstream (1987); versão PM]