25.10.13

Um estudo em Scarlett

Quando dei conta de Scarlett Johansson (que já fazia filmes há uns aninhos),achei não apenas que ela era a jovem mais encantadora do nosso sistema solar, mas também uma actriz com futuro, se tivesse bons agentes, boas propostas, bom gosto. Aquela menina com rosto de Vermeer, mas com uma anatomia e uma carnalidade que intimidaria o cavalheiro de Delft, chegaria onde quisesse. Infelizmente, tirando os good looks, a promessa não se manteve, justamente numa década da vida em que chovem os grandes papéis. Aos 28 anos, Scarlett entrou em quase quarenta longas-metragens, mas para o meu gosto só duas ficarão na história do cinema, Lost in Translation (2003) e Match Point (2005), e não é por acaso que são de gente chamada Coppola (Sophia) e Allen (Woody). Dir-me-ão que estou a ser injusto, e que O Barbeiro (dos Coen) e Mundo Fantasma (de Zwigoff) não são de desprezar. Admito. E acrescento um filmezinho elegíaco quase desconhecido e muito apreciável chamado Uma Canção de Amor, de 2004. Haverá até quem gosta de A Dália Negra ou O Terceiro Passo (não contem comigo), já para não falar no baboso Vicky Cristina Barcelona. Ainda que contássemos com todos estes títulos, e só um incondicional o faria, restam dezenas de inanidades «juvenis», comédias sem nexo, filmes com super-heróis, umas femmes fatales às três pancadas. É pena, porque há poucas actrizes a representar aquele «tipo», com aquela intensidade, naturalidade e confiança, apesar de uma certa limitação de registos. Talvez seja preciso que passe de miúda a mulher, não sei. E talvez chegam melhores propostas, melhores agentes, melhores escolhas. No cinema, ser uma obra-prima ajuda; mas fazer obras-primas também é essencial.