25.10.13

Reserva mental

Quando andava a estudar aquela geringonça que estudei durante um quinquénio, achava graça à existência de alguns termos que conhecia apenas enquanto expressões comuns mas que na verdade também são conceitos jurídicos. Um deles é o de «reserva mental»: quando, num contrato, um dos contraentes está decidido, in pectore, a não cumprir aquilo a que se compromete. Uma simulação mental, aparentada à mentira, mas mais «sofisticada», talvez, e portanto mais detestável. Com o tempo fui aprendendo que não se trata de uma expressão qualquer ou de um conceito banal: a reserva mental é um dos fundamentos da civilização, pelo menos da civilização que conheço bem, que é Lisboa. Por isso, a indesmentível ausência de reserva mental em alguém que conheço mal parece-me sempre estranha, improvável, fantástica. É o começo de uma bela amizade.