Quando toca
Há uma cena, ou antes, um motivo, recorrente em certos filmes «sociológicos» ou «pedagógicos»: o do toque agudo da campainha que interrompe o discurso do professor, que estaria a dizer coisas importantes, úteis, ou tímidas, ou confessionais, ou poéticas, ou confusas, tanto faz. Pouco importa a perspectiva que o cineasta e o argumentista têm sobre «a escola» ou «o conflito de gerações»: fica sempre aquele desconforto de uma frase a meio, interrompida com estridência esperada ou inesperada, e que deixa uma ideia em suspenso, uma emoção em suspenso, até à aula seguinte talvez, mas provavelmente até nunca mais, porque não se retoma exactamente o ponto onde se ficou. E há um grande alarido de mesas, cadeiras, mochilas, remoques. O que me impressiona nessas cenas não é a visão sobre os bons ou maus modos docentes e discentes, mas aquele momento de interrupção brutal, mesmo que normal, previsível: uma interrupção imediata, que nem dá tempo a que se acabe uma frase. É uma tragédia mínima, o pequeno colapso de um indivíduo impotente perante o seu próprio desinteresse. Mas, de certo modo, não é tragédia nenhuma. As aulas têm uma duração. Há um toque que diz quando acabam. E as pessoas vão-se embora. É assim, com ou sem campainhas, em todos os acontecimentos, em todas as vidas, em todas as ilusões. Uma coisa acontece, ou parece estar a acontecer. E quando toca, acaba.