22.1.13

Oshima e o radicalismo

Nagisa Oshima (1932-2013) disse que detestava o cinema japonês, todo o cinema japonês, que filmava contra o cinema japonês, contra o cinema considerado «japonês», contra uma ideia do Japão, conformista, imperialista, feudal. É fácil perceber o que queria dizer, sendo simpatizante dos jovens estudantes militantes, anarco-esquerdistas. Na verdade, um dos poucos filmes do «primeiro Oshima» que vi, A Cerimónia (1971), é magnificamente anti-Japão, sem no entanto conseguir ser «anti-japonês», de tal forma está preso aos rituais privados e públicos das suas muitas personagens. Depois, Oshima caiu na armadilha do «escândalo», lembro-me bem do fenómeno O Império dos Sentidos (1976), por ocasião da sua passagem na RTP e da pífia gritaria que gerou. A história verídica que o guião conta é fascinante, mas um filme sempre me pareceu entediante. Vi quatro os Oshimas posteriores, e três deles não são maus, embora com um erotismo um pouco programático, incluindo o homo-erotismo viril. Já o romance de Charlotte Rampling com um chimpanzé nunca poderia ser senão grotesco. Pelo que tenho lido, desconheço o Oshima que mais vale a pena, altura portanto ver os dvd's que tenho e nunca vi, em especial Contos Cruéis da Juventude e Noite e Nevoeiro no Japão. Talvez eles modifiquem a impressão que me causou o Oshima tardio, imbuído de um «radicalismo» que não me parece mais «radical» genuinamente que o suposto «conformismo» de Ozu, que Oshima atacou, embora não fosse digno de lhe apertar as correias das sandálias.